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Trajetria de Frans Krajcberg resgatada no ano da COP30
Vocs no sabem o que o mundo est falando da Amaznia! Este o ano mundial da floresta. A frase poderia ser de 2025, ano em que a Conferncia das Naes Unidas sobre as Mudanas Climticas, a COP30, ser realizada em Belm do Par. Mas ela foi dita em 2011, por Frans Krajcberg, artista que ficou conhecido por fazer da sua obra um grito em defesa da preservao ambiental. Era uma conversa com estudantes s vsperas da abertura de uma exposio em celebrao aos seus 90 anos. A histria uma das muitas narradas na obra Frans Krajcberg: a natureza como cultura, biografia recm-lanada por Joo Meirelles, ambientalista e amigo do artista, em coedio pelas Edies Sesc So Paulo e Edusp.Eu tinha 24 anos e ele tinha a idade que eu tenho hoje, 65. E ns estvamos juntos, visitamos durante dois anos o Mato Grosso, na parte amaznica. E ele me pediu para escrever a biografia dele, contou Meirelles, em entrevista CNN Brasil.Krajcberg chegou ao Brasil em 1949, depois de ter perdido quase todos os seus familiares prximos na 2 Guerra Mundial e de ter sido escravizado em um campo de trabalhos forados. Menos de dez anos depois, em 1957, ele seria eleito Melhor Pintor Nacional na IV Bienal Internacional de So Paulo. Nesse perodo, tambm participou das bienais de arte de 1951, 1953 e 1955, alm de outros cinco sales de arte moderna. Apesar de ter chegado aqui sem falar uma s palavra de portugus, pouco depois j se relacionava com nomes importantes do cenrio artstico na poca, como Cndido Portinari, Alfredo Volpi e Lasar Segall.J nessa fase, comea a retratar e a usar elementos naturais em suas obras. Vivendo um tempo em Itabirito, Minas Gerais, ele costumava extrair pigmentos naturais de uma caverna da regio. Em uma declarao que consta na biografia, Krajcberg diz: Depois da guerra, que vi os horrores dos homens, no consigo trabalhar com o homem. () no vibro com os humanos, s com a natureza.Brasil, pas nome de rvore, deveria se chamar QueimadaNo final dos anos 80, depois de viajar pela regio amaznica e testemunhar a devastao da floresta, Krajcberg passa a utilizar resduos de queimadas em suas obras. Em uma passagem da biografia, Meirelles escreve: Furioso, Frans levantava os braos desacoroado com o que via () Frans vociferava em seu portugus atabalhoado: Brasil, Brasil, Brasil, pas nome de rvore, deveria se chamar Queimada!. Obras restauradas do 8/1: "Trabalho foi cuidadoso e demorou 12 meses", diz presidente do Iphan Saiba como ser a curadoria do Pavilho do Brasil na Bienal de Veneza 2025 Em clima de urgncia ambiental, artistas brasileiros fazem alertas em obras Ele era tido, e era de fato, um artista muito ligado s questes ambientais. Participou da Rio+20, ele teve mais de uma exposio l, diz Meirelles na entrevista, citando a Conferncia das Naes Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentvel, realizada em junho de 2012, no Rio de Janeiro. Ele conseguiu se inserir em vrias conferncias mundiais de meio ambiente e, claro, era uma voz meio solitria, mas representava uma angstia, um olhar diferente.Meirelles acredita que se estivesse vivo, Krajcberg certamente ia querer participar da COP30. Ele ia estar furioso com a posio de alguns pases hoje. E ia querer estar no centro do debate. O artista morreu em 2017, e deixou um enorme legado de obras realizadas a partir de troncos e razes calcinados retirados de reas queimadas na Amaznia.Ele coletou muita coisa e a Amaznia est muito ligada experincia dele, inovao dele. Claro, ele passou pela Mata Atlntica, o Cerrado, enfim, os outros biomas. Mas a Amaznia, ele sempre tinha um carinho especial. Ele me encontrava e perguntava: e a Amaznia, o que que ns vamos fazer?. Toda vez era assim, conta o autor.Foi um marco na minha vidaUm projeto na Amaznia liderado pelo pai de Joo Meirelles foi o pontap inicial de uma longa relao entre ele e Krajcberg. Joo Carlos de Souza Meirelles, o pai, presidiu o Projeto de Colonizao Juruena, no final dos anos 70, com o objetivo de assentar famlias de agricultores na regio do rio de mesmo nome.O prprio Meirelles Filho conta no livro: Vencemos 3 mil quilmetros de estrada, batendo lata na velha e brava camionete de Frans, de Nova Viosa s barracas do rio Juruena. () No ltimo trecho do percurso, nas estradas de terra do Projeto de Colonizao Juruena, iniciativa de meu pai, a poeira e a monotonia da floresta esfacelada se repetiam () e ele me olhava, severo, diante da banalizao do extermnio da natureza.Hoje, o autor se define como ativista socioambiental e divide seu tempo entre Ribeiro Preto, no interior paulista, e Belm, onde dirige o Instituto Peabiru, que desenvolve projetos sociais e de meio ambiente. E est otimista para a COP30, em novembro. Ela j comeou, na verdade, para quem est em Belm, no sentido de que os debates esto muito mais acalorados, as pessoas, as organizaes e movimentos se posicionando. Claro que h dificuldades enormes, os antigos problemas no deixam de existir. Mas ao evidenci-los, talvez seja positivo sair da inrcia. Ento, eu acho que est sendo positivo. Em Belm, todo mundo j chama de Copa, diz.Eu devo muito (ao Frans) como orientao, porque eu vinha de uma famlia de empresrios, que trabalhava no meio rural, pecuria, colonizao. E surgiu oportunidade da SOS Mata Atlntica, que estava nascendo, e eu abracei essa causa. E o Frans ajudou neste momento de deciso. Meirelles foi vice-presidente e diretor da Fundao SOS Mata Atlntica, fundada em 1986. E eu sigo nessa profisso, digamos, de ativista, ento foi um marco na minha vida.Este contedo foi originalmente publicado em Trajetria de Frans Krajcberg resgatada no ano da COP30 no site CNN Brasil.